Eram dois, mas queria que fossem três. Queria não, tinha de ser. Porque três que é honesto. É justo. É digno. Três.
Mas eram dois. E não pode ser assim. Não pode, de resto, nada além. Apenas um pau e um dinheiro no fim do mês. Sua única oferta, talvez. Não, certeza mesmo. Certeza.
Três, que pouco se divide. É o certo. Não porque dizem, mas porque acha. Olha ao redor e se vê repetida. Não se quer outra vez. Não, Lucíola não quer digressões nem retrocessos.
Três porque dois não se bastam. Porque mais um é muito para se levar só. Só, terrivelmente só. Porque ela não conta um pau e um dinheiro no fim do mês.
Tem de ser mais.
Ah, Lucíola, difícil decisão. Dona do sim e do não, e agora, Lucíola?
Três é mais saudável, dois é confusão. Mas ah que esse um é só felicidade... Não, não é. É mais preocupação. Mas ah se ao menos fossem três...
Não é, Lucíola, e não tem chance de ser. Rejeição é foda, muito foda. Se muito, um pau e um dinheiro no fim do mês, achando o necessário e justo. E quem é que quer? Não pode ser só isso.
Ah, Lucíola, que triste e desesperadora opção extipar-se metade. Seu sonho fora de hora e de par. Mas que vida havia de lhe restar? E mesmo induzida à luz branca quase solar, tremia-se e arrependia-se. Por que tinha de ser o não? Por que não podiam ser três? Melhor esquecer se era câncer ou leão. Porque é tarde, Lucíola. Tarde. Já não arde, Lucíola, só lateja. Ainda vê e sente o sangue que não cessa, Lucíola. Mas haveria de se contentar, Lucíola, com o que restava? Nada além de um pau e um dinheiro no fim do mês. E ainda acharia muito justo e honesto e digno. Que vá para um bordel, que compre roupas novas. Mas não vá a Lucíola com suas besteiras. É preciso mais, é preciso que sejam três para ser um. De resto, são restos e que de nada servem para dois.
Agora não adianta chorar por Lucíola e suas morais. Deixe-a em paz. Lucíola e sua dor já sem lágrimas, mas que não pára, que não cessa, que não estanca, que não tem fim, que só sangra, sangra, sangra. Uma, eternamente uma, Lucíola.